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Liderança das empresas precisa fazer uma avaliação séria sobre riscos socioambientais existentes

Virar CEO é o grande sonho de muitos executivos. Nas minhas aulas de Sustentabilidade Corporativa no Executive MBA, tento me conectar com os sonhos, anseios e pressões organizacionais da vida dos participantes. Várias pesquisas mostram o valor financeiro de uma boa gestão de temas socioambientais como escassez de água, consumo de energia, ética e transparência entre outras. Mas não consigo mostrar que alguém virou CEO por causa da sustentabilidade.

O PRESIDENTE DA VALE, FABIO SCHVARTSMAN (FOTO: VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL )


Porém, recentemente ficou relativamente fácil mostrar que executivos deixam de ser CEO por causa da sustentabilidade. Um dos casos mais emblemáticos é o de Tony Hayward. Ele foi CEO da BP quando no dia 20 de abril de 2010 uma explosão aconteceu na plataforma de petróleo chamada Deepwater Horizon, matando 11 pessoas e causando um vazamento significante de petróleo. Em 18 de maio ele, em nome da BP, anunciou de que se trata de um vazamento pequeno, mas no 27 de maio usou a terminologia de “catástrofe ambiental”. No dia 30 de maio ele comentou com um jornalista que ele “quer sua vida de volta”. O valor da ação da BP na bolsa de Londres caiu de GBP 641,80 no dia 16.04.2010 a GBP 322,00 no dia 02.07.2010 e nunca mais superou GPB 600,00 desde então. No dia 27 de julho BP anuncio que Hayward seria substituído por Bob Dudley a partir de outubro 2010. Ele tinha sua vida de volta!


HEIKO HOSOMI SPITZECK É DIRETOR DO NÚCLEO DE SUSTENTABILIDADE DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL (FOTO: DIVULGAÇÃO)

HEIKO HOSOMI SPITZECK É DIRETOR DO NÚCLEO DE SUSTENTABILIDADE DA FUNDAÇÃO DOM CABRAL (FOTO: DIVULGAÇÃO)


O dia 5 de novembro de 2015 é um dia, que Ricardo Vescovi, ex-CEO da Samarco nunca vai esquecer. O rompimento da barragem do Fundão, causou o até então maior desastre ambiental da história brasileira. Ricardo Vescovi e vários Conselheiros da Samarco foram indiciados por crime ambiental – a legislação prevê para estes casos penas como, por exemplo, reclusão de um a quatro anos. Como consequência do desastre, o governo suspendeu as atividades da empresa.


Martin Winterkorn era CEO da Volkswagen até 23 de setembro 2015. Em nome da empresa ele se desculpou (bem tarde) por usar software para fraudar a medição de emissões nos carros movidos a diesel para atender os limites estabelecidos pela legislação europeia e americana. Ele foi indiciado por fraude e o procurador geral dos Estados Unidos diz “se você quer enganar os Estados Unidos, você pagará caro por isso.” Caso ele viaje para os Estados Unidos, seria preso na hora. Os custos totais para a empresa referente a multas, perda de valor de veículos e compensações para proprietários de carros movidos a diesel se somam a mais de R$ 70 bilhões. A gestão de crise foi criticado seriamente na imprensa alemã, atribuindo erros principalmente na cultura da liderança e na incompetência do Conselho de Administração.


Tem vários outros casos nacionais e internacionais. Aldemir Bendine, CEO da Petrobras até a Lava Jato, Klaus-Christian Kleinfeld, CEO da Siemens até o escândalo de corrupção em 2006/2007, etc. Alguns de vocês vão complementar: Fabio Schvartsman, CEO da Vale até o rompimento da barragem Córrego do Feijão em Brumadinho.


E a moral da história? Em todos casos se encontra uma falta de gestão de riscos socioambientais, comunicação desastrosa durante a crise e CEOs e conselheiros despreparados e sem sintonia com que a sociedade espera deles nestes momentos.


Assim se você avança na sua carreira e será convidado a ser CEO ou conselheiro de uma empresa, faça uma avaliação séria sobre riscos socioambientais existentes. Verifique a qualidade da comunicação em momentos de crise e da qualificação da diretoria e do Conselho de Administração de tratar desses temas de forma estruturada. Porque os CEOs mencionados acima, perderam profissionalmente, financeiramente, legalmente e pessoalmente. A sociedade atribui a eles um legado negativo, um legado que não necessariamente foram eles que construíam. Antes de aceitar o convite, se pergunte: qual legado quero deixar e para qual legado foi convidado?


* Heiko Hosomi Spitzeck é Diretor do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral


Matéria via: Época Negócios

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